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Journal

POR: BEN HOWKINS

Ben Howkins e o homem
por detrás do vinho

por Ben Howkins

7 Março, 2024

Ao longo dos muitos anos que levamos a fazer vinho, cruzámo-nos com pessoas que nos tocaram de diferentes formas. Decidimos usar este espaço para dar a conhecer histórias que algumas dessas pessoas têm para partilhar sobre o vinho, o Douro e a cultura onde se insere. Afinal, para nós “vinho é gente, vinho é cultura, vinho é natureza”.

A primeira pessoa a aceitar este desafio e a escrever uma história sobre o vinho do Porto foi o nosso querido amigo e parceiro de negócios, Ben Howkins. O Ben é um dos maiores especialistas do Reino Unido em Vinhos do Porto e Vinho de Jerez. Já visitou o Douro inúmeras vezes e tivemos a sorte de conviver com o Ben em muitas dessas ocasiões. Um dos projectos em que colaborámos foi em 2016 o lançamento de um Porto Very Old Tawny muito especial,  The Last Drop Centenário Very Old Colheita Tawny Port 1870 & 1970 DUO. Atualmente o Ben é um parceiro fundamental no lançamento da Rare Port Collection da Van Zellers & Co,  coleção única de vinhos do século XIX.

Como poderão ler, as suas histórias são inúmeras, e para além de inspirar e educar as pessoas com o seu imenso conhecimento por forma a que o vinho seja para elas um prazer ainda maior, em particular os vinhos fortificados e de sobremesa, o Ben tem um incrível sentido de humor. As suas histórias e a sua visão da vida e das pessoas com quem se cruzou são tão emocionantes de ler como a intensidade de um bom copo de Old Tawny Porto.

Esperamos que goste deste novo tema no jornal da Van Zellers & Co tanto quanto nós gostámos de a ler.

Um agradecimento especial a Ben Howkins por ter partilhado estas palavras

Ben Howkins

Já alguma vez se perguntou que tipo de pessoas terão criado o vinho que neste momento tem  no seu copo? Será que era uma pessoa bonita e perfumada? Ou era robusto e generoso?  Seriam marido e mulher?

O mesmo se passa com os chefes de cozinha. Um chefe magro oferecerá provavelmente iguarias mais elaboradas para comensais mais sérios e exigentes ; um chefe mais roliço e sorridente  fará comida para gentes que valorizam mais a saciedade e a abundância.

O que é maravilhoso nos vinhos produzidos por famílias, e não por empresas, é que parece haver de facto uma relação entre o criador e o seu vinho.

O exemplo clássico é o de Bordéus, onde as duas magníficas propriedades Rothschild, o Chateau Lafite e o Chateau Mouton Rothschild, embora estejam localizadas apenas a alguns metros de distância, têm dois estilos completamente diferentes. O primeiro tem um equilíbrio perfeito, uma elegância extrema e pode ser considerado a referência do melhor vinho de Bordeus. O equilíbrio perfeito e a extrema elegância poderiam muito bem descrever o Barão Eric de Rothschild, que foi o membro da família responsável por esta propriedade durante quarenta anos. Eric personifica absolutamente Lafite, como estou certo de que a sua encantadora filha, Saskia, o fará nos próximos anos.

A proprietaria  do Chateau Mouton Rothschild, nessa mesma época,  era a ex-atriz e extrovertida Baronesa Philippine de Rothschild. Philippine vivia a vida a todo o vapor.  E já adivinhou ? Os vinhos de Mouton são claramente mais extrovertidos e fulgurantes.

No final do século passado e no início da explosão dos cabernets de Napa valley na California os vinhos tinham um elevado teor alcoólico e todos nos perguntámos porquê. Sabíamos que Robert Parker gostava deste tipo de vinhos  mas era uma situação que nos fazia pensar “ apareceu primeiro a galinha ou o ovo?”. Será que os produtores se curvaram aos pontos de Parker ou será que Parker encorajou esta caraterística entre a nova fraternidade de proprietários de vinhas da California?



Um perspicaz Relações Públicas de Napa deu-me razão. Este novo grupo de proprietários de vinhas de topo de Napa tinha, na sua maioria, ganho dinheiro vendendo as suas empresas de informática/construção para financiar o seu sonho de ter uma vinha. Para além de desfrutarem de um clima quente e agradável, também gostavam de martinis fortes, whiskies e gins de luxo. O elevado grau alcoólico significava mais qualidade.

O mesmo acontecia com os seus vinhos. Queriam que os seus vinhos ultrapassassem a barreira dos 14,5% ou mais. Uma aspiração nobre, mas não para mim. E, os valores normais estão agora a ser retomados.

No Vale do Douro, no Norte de Portugal, o majestosa berço do vinho do Porto,   teve durante séculos múltiplas personalidades  que foram moldando o comércio e o estilo dos vinhos de que mais gostavam.


Os exemplos clássicos mais recentes incluem, sem dúvida, o proprietário da Taylor’s, o elegante ex-membro da Guarda Escocesa,  Alistair Robertson. O vinho do Porto vintage da Taylor’s é conhecido por ter “espinha dorsal” (espinha dorsal de ramrod?) e é de facto elegante, duradouro e generoso.


Em contraste, o porto Fonseca, também parte do universo Taylor é certamente moldado à imagem do seu lendário produtor, Bruce Guimaraens. O vinho do Porto  Fonseca é robusto, vigoroso, com intenso aroma de fruta, uma alegria que nos envolve  e um  porto forte e valente – ou será esta a descrição da perosnalidade de Bruce? David, o filho de Bruce, continua alegremente a tradição familiar, ao mesmo tempo que acresenta nos vinhos notas pessoais.


Durante muitos anos, o vinho do Porto Croft, empresa onde trabalhei, era propriedade de Robin Reid, cuja mulher Elsa e as suas três filhas davam um certo equilíbrio feminino aos procedimentos. A Croft tem, de facto, notas mais florais na sua composição.

Cristiano van Zeller, atual guardião da dinastia van Zeller, tem o ar de um aristocrata, com a sua figura cheia e a sua bela barba. Poderia estar igualmente à vontade no seu castelo ou no seu clube. O seu mais recente lançamento de três Colheitas do século XIX, de 1888, 1870 e 1860, parece ser a escolha perfeita.


Imagine como seria a vida durante esses anos  num clube de cavalheiros de St James’s Street.  Duques a chegarem das suas propriedades no campo; Lordes a tomarem uma bebida depois de terminar a sessão do Parlamento e homens de negócios a chegarem da City de Londres  conduzidos nas suas carruagens. Jantares onde são servidas grandes quantidades de vinho do Porto e jogos de azar que elevando os níveis de adrenalina  mantinham estes convivas acordados até de madrugada. A conversa e as apostas fluíam em igual medida. Foi neste mundo que nasceram estes vintages. Apreciá-los hoje é, de facto, um prazer único que nos deixa boquiabertos.

O meu último livro “Adventures in the Wine Trade – Diary of a Vintners Scholar”, recentemente publicado pela Academie du Vin, descreve a minha primeira visita ao Vale do Douro nesse célebre ano de 1963 ano de um do mais afamados Vinhos do Porto Vintage do seculo passado. Há algo de mágico, algo de interminável e algo que vai diretamente ao coração quando se prova e aprecia estes vinhos que são fonte de enorme prazer.

Há também um sentido de humor, um sentido de camaradagem que acompanha este que é o mais inglês dos vinhos não ingleses, saiba mais aqui.

Photographer – Carolina Pimenta for The Last Drop

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